Lesões no Karate (parte 2)

jun 10, 2020 Blog

Lesões no Karate (parte 2)

karate

Nesta segunda parte sobre lesões no Karate, vou abordar a prevenção de lesões e fatores de risco.

Segundo um grande pesquisador da área de treinamento funcional, Michael Boyle, não importa o que fazemos como preparadores físicos ou fisioterapeutas, não é possível evitarmos todas as lesões.

De tempos em tempos os atletas irão se machucar, pois em todo treinamento ou competição haverá o risco de lesão. O que podemos fazer é reduzir a incidência das lesões.

Como já foi dito no outro artigo, o Karate é uma modalidade praticada por indivíduos de diferentes faixas etárias e com diferentes objetivos. Para evitar as lesões é importante identificar a população que está sendo objeto do seu trabalho e os principais fatores de risco associados a ela.

O controle motor, frequência e tipo de treinamento, por exemplo, variam de acordo com a faixa etária trabalhada.

As lesões mais comuns no Karate são as contusões e seria impossível eliminá-las de nossa prática por ser um esporte de contato. O que pode ser feito é a diminuição da gravidade das lesões por contato com o desenvolvimento técnico, uso de equipamentos de segurança e desenvolvimento de regras, como vem sendo feito pelas organizações esportivas.

À seguir discutiremos um pouco mais sobre fatores de risco e diminuição de incidência de lesões não-traumáticas, lesões e dores por sobrecarga (overuse) que podem surgir durante os períodos de treinamento.

Alguns fatores de risco importantes a serem observados:

  • Desequilíbrios musculares
  • Falta de flexibilidade e mobilidade
  • Fraqueza de musculatura estabilizadora
  • Lesões anteriores não tratadas
  • Deficiência Técnica
  • Aquecimento inadequado
  • Alimentação e recuperação inadequadas
  • Alto volume de treino
  • Falta de Periodização
  • Tipo de piso e materiais de treino

Esses fatores devem ser monitorados e, se necessário, corrigidos para que se possa evitar ao máximo o surgimento de alguma lesão.

Desequilíbrios musculares

Os desequilíbrios musculares ocorrem quando há diferença de força e flexibilidade entre grupos musculares que atuam sobre uma mesma articulação, podendo um grupo apresentar-se mais forte do que seu antagonista (bíceps e tríceps, por exemplo, atuando sobre o cotovelo). Os desequilíbrios também podem ocorrer entre um lado e outro do corpo, como a coxa direita e a coxa esquerda.

O desequilíbrio muscular pode ser causa ou consequência de dores e lesões. Pode ocorrer devido à sobrecarga, repetição excessiva, má postura, lesões articulares, lesões musculares, contraturas ou aderências, déficits neurológicos, desuso ou atrofia entre outros fatores.

Como identificar e tratar os desequilíbrios musculares? Existem testes como o aparelho isocinético, que é um teste bem específico, muito utilizado por atletas de elite que passam por cirurgia. Uma forma simples para você aferir desequilíbrios seria através dos aparelhos de musculação, verificar a proporção de cargas utilizadas entre músculos antagônicos (quadríceps e isquiotibiais, por exemplo) e também comparando os membros contralaterais (membro inferior direito x membro inferior esquerdo), além de visualmente poder ser realizado uma aferição da circunferência dos membros.

Para se manter um bom equilíbrio muscular é recomendado realizar exercícios de fortalecimento unilaterais (um membro de cada vez) e que tenha uma harmonia na escolha dos exercícios de fortalecimento, mantendo uma boa proporção entre cadeias posteriores/anteriores e laterais/mediais.

Fraqueza de musculatura estabilizadora

O CORE é um grupo de músculos que atua na sustentação e estabilização do tronco. A estabilidade do CORE permite a otimização da produção, transferência e controle de força e movimento, que é transferido para toda a cadeia cinética durante o movimento funcional.

Além da musculatura do CORE, as musculaturas estabilizadoras da cintura escapular e estabilizadoras de quadril são áreas que devemos ter atenção especial para diminuir incidência de dor e lesões.

Possuir musculatura estabilizadora forte é garantia de bom movimento e transferência de força.

Flexibilidade x Mobilidade

Você pode estar se perguntando: Qual a diferença entre flexibilidade e mobilidade? A flexibilidade está relacionada com a capacidade que um músculo tem para se alongar. Já a mobilidade tem um sentido mais amplo, é a amplitude de movimento de uma articulação, o quanto uma articulação pode se mover com qualidade.

A qualidade do movimento articular pode estar relacionada tanto à falta de flexibilidade como a falta de mobilidade.

As lesões se relacionam intimamente com a função adequada das articulações, na verdade com sua disfunção. Em geral, os problemas de mobilidade em uma determinada articulação (disfunção) se revelam na forma de dor na articulação acima ou abaixo.

O que eu quero dizer com isso é que a perda da mobilidade do tornozelo, por exemplo, pode gera dor no joelho. Assim como a falta de mobilidade da região torácica pode lhe dar dor na região cervical e ombros ou dor na lombar.

Aquecimento inadequado

O objetivo do aquecimento é preparar o corpo para o treino, promovendo maior controle corporal e diminuindo o surgimento de lesões. Um bom aquecimento pode ser dividido em 4 partes:

1. Aquecimento geral: com o propósito de aumentar a temperatura corporal, são utilizadas atividades cíclicas de intensidade leve a moderada como trotes de corrida.

2. Ativação do core: o objetivo é ativar os músculos estabilizadores do movimento, principalmente da região do “core”, através de exercícios com o peso corporal.

3. Alongamento dinâmico: mantendo o aumento da temperatura corporal com alongamentos em movimento e coordenados, almejando a amplitude das articulações.

4. Ativação neuro-muscular: exercícios para otimizar a comunicação neural e muscular, com movimentos de agilidade rápidos e curtos, de alta intensidade.

Deficiência técnica

Não é necessário salientar como é importante o treino e desenvolvimento técnico para a prevenção das lesões. Ter domínio técnico fará o praticante ter golpes mais potentes e ao mesmo tempo controlados. Nesse caso evitará lesões tanto para o praticante como lesões em seus adversários.

Lesões prévias não tratadas

Nosso corpo tem um alto poder de auto-cura e adaptação. Não tratar dores e lesões de maneira adequada pode acarretar em má adaptações e futuras lesões. Uma lesão muito comum e bastante negligenciada é a entorse de tornozelo.

Muitas vezes a entorse de tornozelo não é tratada, o corpo se adapta com o tempo e a pessoa não sente mais dor, porém pode apresentar alterações na mobilidade ou estabilidade da articulação, podendo acarretar em dores e lesões futuras em outras estruturas como joelho, quadril e lombar.

Uma dica é sempre procurar ajuda profissional para tratar suas dores e lesões, não deixe o corpo se adaptar a elas e nem se auto-medique, você estará tratando somente um sintoma e não a causa de sua dor.

Materiais de proteção e treinamento

A utilização de materiais de proteção como luvas, protetores bucais, caneleiras etc, além de se treinar em um piso adequado são fundamentais para se diminuir a taxa de lesões dos praticantes de Karate.

Periodização/Recuperação/Alimentação

É muito importante fazer um planejamento dos treinos, adequando intensidade, volume e frequência de treinos. Ter um período para o corpo se recuperar dos estímulos dados é fundamental para que se tenha o ganho almejado e que se evite o surgimento de lesões por sobrecarga, além disso, a alimentação balanceada é necessária também tanto para que seu corpo consiga render fisicamente durante os treinos como para se recuperar dos estímulos dados.


Essa foi a segunda parte deste tema. Siga nas redes sociais Facebook e Instagram para saber quando a última parte for publicada. Abordarei o papel do fisioterapeuta no acompanhamento de praticantes de Karate.


Cláudia Kanashiro é fisioterapeuta formada pela UNIFESP. Formou-se também em Educação Física na UNESP e Osteopatia no IDOT. Atualmente atende fisioterapia, reabilitação, recovery e osteopatia na cidade de Guarulhos.

Conheça os serviços oferecidos: Programas de fisioterapia

Contato WhatsApp: (11) 99888-4008.