Lesões no Karate (parte 1)

jun 8, 2020 Blog

Lesões no Karate (parte 1)

karate

(O conteúdo deste artigo foi apresentado em uma palestra para instrutores de Karate em 2018)

O Karate é uma arte marcial japonesa que inicialmente foi desenvolvida como uma forma de defesa pessoal sem utilização de armas, isto é, o praticante utilizava seu próprio corpo para defender-se e também para atacar o oponente.

Atualmente, o Karate possui status de esporte olímpico e essa transição de arte marcial para esporte faz com que o Karate tenha características peculiares em relação aos benefícios de sua prática, assim como às possíveis lesões que podem afetar os praticantes da modalidade.

Apesar das artes marciais serem potencialmente perigosas, visto que seus praticantes aprendem técnicas de combate, elas são menos lesivas que esportes como futebol e basquete. Isso se deve às instruções e regras criadas para treinos e competições.

O Karate pode ser praticado por pessoas de todas as faixas etárias e são diversos os motivos que levam as pessoas a adotar o Karate como atividade, seja para aprender a defender-se, para melhorar a qualidade de vida ou até mesmo para ser um atleta e participar de competições. Dessa forma, dependendo do objetivo de cada pessoa, ela poderá estar mais propensa ou não a sofrer lesões.

Os estudos científicos demonstram que há mais benefícios na prática de artes marciais do que risco de lesões. Por exemplo, há duas pesquisas que comprovaram o benefício da prática de Karate na prevenção de queda em idosos e em pacientes com Parkinson.

Em um estudo italiano de 2014, ficou comprovado que crianças de 9 anos que praticam karate apresentam melhor desenvolvimento motor e cognitivo ao serem comparadas com crianças sedentárias. Os pequenos caratecas apresentaram maior coordenação, força, potência e velocidade, além de maior pontuação em testes de memória e atenção.

Apesar das taxas de lesões no Karate serem pequenas, elas existem e, geralmente, são de baixa gravidade, ocorrendo mais em competições do que durante o treinamento.

Lesões

No geral, as lesões podem ser classificadas em traumáticas ou não-traumáticas. As lesões traumáticas, como o próprio nome já sugere, são decorrentes de algum trauma, um impacto ou uma ação violenta e súbita. São exemplos de lesões traumáticas: entorses, contusões, estiramentos e fraturas.

 Já as lesões não-traumáticas, são conhecidas como lesões por sobrecarga, por overuse ou por esforço repetitivo, tais como, tendinites, síndromes (como a síndrome do trato-iliotibial, comum em corredores) e dores inespecíficas, como a lombalgia (dor na lombar) .

As lesões também podem ser classificadas de acordo com a sua severidade, sendo leves, moderadas ou graves. As lesões leves quando ocorrem não impossibilitam a pessoa de exercer suas atividades da vida diária e atividades esportivas. Já as lesões graves afetam a rotina da pessoa, podendo muitas vezes ser necessária uma intervenção cirúrgica.

Quais as principais lesões apresentadas por praticantes de Karate?

Para responder a essa pergunta, faço de tempos em tempos, pesquisa nas principais revistas internacionais de publicações científicas e infelizmente não há muitas publicações de qualidade sobre nossa modalidade.

Os estudos apresentados geralmente são questionários aplicados em competições, resultando em coleta de dados de lesões em sua maioria traumáticas (contusões e abrasões) já que estamos falando de um esporte de contato, não demonstrando a realidade sobre as lesões que temos durante os treinos (que em minha prática clínica representa o período no qual há maior incidência de dores e lesões, principalmente as não-traumáticas como as lesões musculares e tendinopatias).

Veja a seguir alguns dados de pesquisas sobre as lesões no Karate

Um estudo iraniano (2015) teve como objetivo verificar a incidência e tipo de lesões apresentadas por praticantes de Karate durante um ano inteiro de treinamento. 620 atletas foram estudados e a taxa de incidência de lesão foi de 16,1%.

90% das lesões ocorreram durante a prática do kumite, 6% durante o condicionamento físico e 4% durante o kata.

As lesões foram mais comum em atletas com peso inferior a 70 kg e menor experiência esportiva.

 Os locais mais comuns de lesão foram cabeça e pescoço, seguidos de tronco, membro inferior e superior, respectivamente.

Apenas dois casos necessitaram de intervenção cirúrgica. O tipo mais comum de lesão foi contusão e lesões superficiais na pele (abrasões).

Outro estudo mais recente, de 2017, verificou a taxa de lesões e os fatores de risco em atletas jovens de Karate (12 a 17 anos). A pesquisa teve como base os relatórios médicos de dois anos de competições na Eslováquia. No total, 1733 crianças participaram dos eventos (625 meninas e 1108 meninos) e 171 lesões foram registradas.

As áreas mais afetadas foram cabeça e pescoço, seguido do tronco, membros inferiores e membros superiores. O tipo de lesão mais comum foi a contusão, causada por golpes com a mão.

Em 2013, um grupo polonês publicou uma revisão de literatura, isto é, fez um levantamento das pesquisas que já haviam sido publicadas sobre as lesões no karate, trazendo os seguintes resultados:

Os estudos retrospectivos documentaram lesões graves (principalmente fraturas), enquanto nos estudos prospectivos, realizados exclusivamente durante os torneios, foram registradas lesões menores, dentre as quais predominaram as contusões.

Os resultados da maioria dos estudos demonstraram maior risco de lesão em homens em comparação com mulheres. As lesões foram registradas principalmente na área de cabeça, face e pescoço e em maior parte devido a chutes do adversário.

Vale ressaltar que neste estudo eles verificaram que as modificações dos regulamentos de campeonatos reduziram o risco de lesões, corroborando com o estudo de Macan (2006) que concluiu que a implementação de regras é importante na prevenção de lesões em artes marciais. Segundo ele, julgamentos rigorosos e penalidades pesadas por golpes descontrolados, particularmente nos atletas mais jovens, podem diminuir significativamente o risco de lesões.

Macan ainda sugere que estudos adicionais sobre prevenção de lesões em artes marciais devem incluir treinamento técnico e tático adequado, equipamentos de proteção obrigatórios e atenção ao estado geral do atleta, incluindo períodos adequados de treinamento e descanso e dieta adequada.


Essa foi a primeira parte deste tema. Siga nas redes sociais Facebook e Instagram para saber quando as outras partes forem publicadas. Abordarei os fatores de risco, prevenção das lesões e o papel do fisioterapeuta no acompanhamento de praticantes de Karate.


Cláudia Kanashiro é fisioterapeuta formada pela UNIFESP. Formou-se também em Educação Física na UNESP e Osteopatia no IDOT. Atualmente atende fisioterapia, reabilitação, recovery e osteopatia na cidade de Guarulhos.

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