Uso de celular e dor no pescoço (cervicalgia)

A dor no pescoço (cervicalgia) é a 4ª causa de incapacidade no mundo. Pressupõe-se que a postura da cabeça (flexionada “para frente”) ao usar o celular, pode aumentar a carga mecânica nas articulações e ligamentos da coluna cervical, aumentado a demanda da musculatura posterior do pescoço e podendo provocar dor na coluna cervical. Mas será que isso é verdade?

Em um estudo brasileiro de 2017, 150 estudantes entre 18-21 anos foram avaliados para ver se havia associação entre dor no pescoço e uso de celular.

Analisou-se a postura da coluna cervical durante o uso de celular: a pessoa era fotografada em pé, utilizando o celular para a digitação de um texto. Neste estudo observou-se apenas como estava a flexão do pescoço e também foi aplicado um questionário sobre a dor no pescoço. A conclusão dos pesquisadores é que não houve associação entre o uso de celular e dor no pescoço.

Um outro estudo, também de 2017, mas realizado por um grupo de pesquisadores da Suécia, teve como objetivo investigar se usar o celular é um fator de risco para desordens musculoesqueléticas na cervical e membros superiores de jovens adultos, entre 20 e 24 anos.

Inicialmente 7.092 pessoas participaram do estudo que teve acompanhamento das queixas de dor e o uso de celular após 1 ano e após 5 anos da primeira pesquisa. Neste estudo eles verificaram associação entre o uso de celular e sintomas em pescoço e braços, principalmente no curto prazo.

O grupo que apresentava sintomas, geralmente adotou uma postura de flexão do pescoço, sem apoio para os membros superiores ou segurando o celular com apenas uma mão e digitando com o polegar.

Este mesmo estudo sugere-se que uma boa postura para o uso do celular seria sentado, com os antebraços apoiados, segurando o celular com as duas mãos e o pescoço mais verticalizado.

Dessa forma, as pesquisas ainda não revelam com absoluta certeza se o uso do celular pode ou não aumentar o surgimento de sintomas no pescoço. Assim como outras lesões e dores, acredito que há um conjunto de fatores que levam ao surgimento delas.

Estudos utilizados para este artigo: Text neck and neck pain in 18–21‑year‑old young adults (European Spine Journal) e Texting on mobile phones and musculoskeletal disorders in young adults: A five-year cohort study (Applied Ergonomics).

Cláudia Kanashiro é fisioterapeuta formada pela UNIFESP. Formou-se também em Educação Física na UNESP e Osteopatia no IDOT. Atualmente atende fisioterapia, reabilitação, recovery e osteopatia na cidade de Guarulhos.

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